Monday, November 16, 2009

Colégio Militar


"Quem conhece ex-alunos do Colégio sabe que têm uma organização e uma coesão ímpar em qualquer outra escola. Falam do Colégio com saudade e têm um respeito pela instituição como ninguém tem da sua escola. Nela se fi zeram amizades que perduram para toda a vida e alguns dos meus melhores amigos são ex-alunos do CM e devo confessar que são sempre gente com outra postura perante o dever e a sociedade. O Colégio Militar dá educação em sentido pleno do termo. Tem um ensino de excelente qualidade e dá quadros de valores que nenhuma outra escola garante.
Em 1975, numa acção de dinamização organizada para os alunos do Colégio por gente afecta ao PCP —Varela Gomes, Faria Paulino e outros— começaram a atacar a instituição e a apelidarem os alunos de príncipes privilegiados. Um aluno dos mais novos, ou seja com uns 11 anos, levanta-se e calmamente diz que é filho de um oficial que morreu em combate, que se não fosse o Colégio não poderia estudar e não percebia onde estava o príncipe. Os protesto generalizaram-se (teve lugar uma gigantesca boiada, usando a terminologia do CM) e a comissão de dinamização foi forçada a sair pela porta dos fâmulos —porta de serviço— e não pela porta principal. Foi o enxovalho total, apesar de os ofi ciais tentarem,em vão, acalmar os alunos. É gente de fibra.(...)

Como professor na universidade, sempre que tenho conhecimento de que um aluno meu veio do CM, posso testemunhar o aprumo, o à vontade, a auto-confiança e o profi ssionalismo com que está numa aula. Tudo isto, em flagrante contraste com os colegas, especialmenteos mais betinhos. (...)
O contraste é gritante com o que se passa nas nossas escolas. E a anarquia, quase geral em que vive o ensino secundário, tem horror ao Colégio Militar, obviamente. Aliás, a verdade é mais funda: a anarquia quase geral da nossa sociedade tem horror à instituição militar. Uma instituição organizada, como a militar, que cultiva os valores da honra, da camaradagem, da disciplina e do dever para com a pátria, não pode ser bem vista pela sociedade actual. A nossa vida colectiva —a civil— privilegia o oportunismo, habituou-se aos casos de corrupção (com ou sem fundamento), tem uma imprensa virada para o escândalo e uma televisão com novelas que são difusoras da falta valores e da ausência dos bons costumes.
O Colégio Militar poderá acabar mas as razões estão na nossa sociedade e não dentro dos muros do Colégio. O horror à decência é dos indecentes. "
Luis Campos e Cunha
Professor universitário , in Público, 13-11-09

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