"Na primeira fase, o primeiro-ministro surge como um chefe enérgico, determinado no desígnio de nos libertar de um conformismo tacanho, de uma crónica falta de ambição, de nos modernizar, a todos e cada um de nós. (...)
Era simpático este primeiro Sócrates, trabalhador incansável, corajoso, rápido na decisão, usando a autoridade com singular incorrecção política, parecendo saber o que queria e por onde ia. Foi o tempo de um plano reformista, ambicioso e necessário. Mas depressa se viu que o homem não tinha painel de bordo, algo gravíssimo quando se arranca em todas as frentes com medidas que abanam, perturbam e criam resistências; quando se opta por um modelo de governo com um único rosto e uma única voz.(...)
A segunda fase é, para mim, a mais misteriosa. O que levou Sócrates a remodelar o Governo com o único intuito de substituir Correia de Campos tirando-o do sector onde a reforma se lançava com maior probabilidade de êxito, por um mero defeito de comunicação? Como não percebeu a carga simbólica que este gesto iria revestir, num momento de acesa oposição às medidas do ministro? É a partir deste momento que Sócrates começa a perder a mão. As reformas são postas em banho-maria, a rua transforma-se no espaço de confronto político por excelência e o Governo perde grande parte da capacidade negocial. O que podia ser uma mera suposição fica confirmado com a megamanifestação dos professores e, sobretudo, com o gravíssimo incidente da ocupação de eixos rodoviários estratégicos pelos camionistas. Durante dias, o País viu um Sócrates que não conhecia: atarantado, perdido, inseguro, incapaz de accionar os mecanismos do próprio Estado; e, como sucede a quem perde a autoridade, o primeiro-ministro socorreu-se do autoritarismo.
A terceira fase é marcada pela emergência de uma crise económica global com contornos desconhecidos e uma evolução imprevisível. Ironicamente, a crise podia ter sido o novo fôlego de Sócrates se no primeiro debate parlamentar sobre esta questão tivesse apelado seriamente à coesão nacional e social. Mas optou por passar um atestado de menoridade a toda a oposição e enveredou pelo perigoso caminho da ficção. (...)
Daí para a frente é a tentação do autoritarismo, da ficção, da soberba e da vitimização que ameaçam esgotar o discurso socrático. E foi apenas isto que o congresso veio confirmar."
Maria José Nogueira Pinto, DN
1 comment:
esta senhora e quase tao boa a dizer mal do socrates como a fazer de muleta ao ps em todas as frentes!!outro belo caso de esquizofrenia!
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