Wednesday, April 9, 2008

Liberdade


Uma das expressões mais estúpidas que me lembro de sempre ouvir é a famosa “A nossa liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros”. Em teoria esta expressão é muito atractiva aos ouvidos mais incautos e seduzíveis bela sua beleza idílica. Num mundo ideal até poderia ser verdade... A ideia que nunca haveria interesse conflitantes e que poderíamos demarcar linhas de fronteira a partir das quais não só nunca passássemos, mas também nunca precisaríamos de passar.

A expressão é estúpida tanto na perspectiva do indivíduo como na perspectiva da sociedade/comunidade em que o mesmo está inserido. Postos perante duas liberdades como a liberdade de fumar e a liberdade de não fumar, não é o choque de liberdades nem a expressão aqui em causa que resolve a contenda mas sim a comunidade que faz uma ponderação de valores e acorda que uma liberdade, a de não fumar, é superior à outra. Com ou sem razão não é a minha liberdade a acabar onde começa a dos outros mas sim um poder regulatório a impor que um comportamento é aceite e o outro não é tolerado ou tolerado em circunstâncias especiais.

Sem esta “moralização” e imposição de valores pela comunidade, o que teríamos seria um choque de liberdades sem qualquer hierarquização de valores e caos humano. Existe uma moral pública, imposta e obrigatória por muito que anarquistas e sonhadores rousseauianos discordem ou achem que a liberdades dos outros acaba onde começa a sua.

Mas a expressão é igualmente infeliz num perspectiva individual. Tomemos como exemplo um caso actual e outro emblemático.

O caso que veio à baila no passado domingo prende-se com o senhor John Deaves e a sua filha Jenny. Ambos admitiram ter consumado um casamento de incesto. Aparentemente estes simpáticos australianos não estão a invadir o campo da liberdade de ninguém. Contudo a sua atitude é moralmente reprovável pela moral pública que como vimos não pode cessar de existir. E se tal moral existe é, entre muitos outras razões, também porque esta união repugnante e incestuosa custou a vida a um recém nascido filho do casal que morreu de insuficiência cardíaca congénita.

Mas passemos a um caso clássico e ainda mais claro, já que o defensores da liberdade individual podem sempre escudar-se na invasão da liberdade do recém-nascido. O Canibal de Rotemburgo. Como podem ler aqui, o senhor Bernd Juergen no pleno uso da sua liberdade individual e sem invadir a liberdade de ninguém pediu a outrem que o matasse e o comesse. O que fez... Se outros argumentos falhassem para rebater a frase objecto do meu texto este bastaria...

3 comments:

Anonymous said...

Caro Remexido,

Na minha opinião, um infeliz caso particular não deve servir como exemplo para pôr em causa um princípio tão importante e que ainda não está assimilado por muita gente.

PSL

Remexido said...

Caro PSL

O exemplo que dei apenas ilustra o argumentos que enunciei acima.

Quanto ao exemplo em si é um caso extremo, mas que demonstra bem que este principio só por si não vale muito.

Juíz Implacável said...

Os meus melhores e saudosos cumprimentos ao meu caro amigo Remexido.
Constou-me, e já pude confirmar que a nossa ausência tem sido de certa forma, evidenciada por alguns leitores deste bom blog.
Não gostaria de perder esta oportunidade para felicitar o seu regresso, dar os meu parabéns pelo seu artigo que considero apropriado para actual situação da nossa sociedade.
Cumprimentos