Wednesday, October 3, 2007

Crónica sulista, elitista mas pouco liberal



A vitória de Luís Filipe Menezes nas eleições directas do Partido Social Democrata da última sexta-feira só surpreendeu os mais desatentos ou os que não conhecem as entranhas do partido que durante mais tempo governou Portugal pós 25 do 4.

Comecemos pela derrota de Marques Mendes. Era um dado adquirido que a liderança de Marques Mendes não empolgava ninguém. Mas não é menos certo que o Partido precisava de uma liderança “aborrecida” e serena para lamber as feridas e fazer a travessia do deserto após o sonho louco de Pedro Santana Lopes. Conhecendo os militantes do PSD como eu conheço (e bem), direi que são os militantes que mais amam o seu partido. A militância social-democrata confunde-se quase com a paixão clubística irracional que se tem pelo Benfica ou pelo clube da terra! Assim perceberemos que os militantes do PSD gostem sobretudo de vitórias. Mas apenas vitórias não os satisfazem. Exigem que o partido ganhe, jogando “um futebol bonito”. Por isso mesmo apesar de ter ganho as autárquicas, regionais da Madeira e presidenciais, Marques Mendes caiu em desgraça porque as vitórias pouco ou nada se deveram ao líder agora deposto.

Olhando para o típico militante do PSD veremos que é essencialmente o self made man de classe média, que raramente vivia de privilégios no Antigo Regime e teve que lutar para os obter, que trabalha essencialmente nos serviços ou tem o seu pequeno e médio negócio. Muito diferente do aburguesado, intelectualmente arrogante nas artes e na cultura e a dar para o apaneleirado que subjaz a qualquer psiché socialista. O militante do PSD amarga quando vê os boys a bloquear o negócio, o escritório ou a promover quem não merece. E por isso deseja ser ele próprio, licenciado ou com o antigo 7º ano dos liceus a ocupar tal posto. Quando há poder tudo corre bem, quando não há o militante afasta-se.



Foi o que aconteceu a Marques Mendes. Convencidos que tinham líder para mais dois anos e zero vitórias futuras, apoiantes de Marques Mendes e inimigos de Menezes ficaram em casa, sem pagar as quotas. Acabaram a noite de queixo pendurado a olhar para a ascensão à liderança de um homem que em apenas em Abril de 2005 foi vaiado num Congresso da JSD no Fundão.

Este último dado traz-nos a outra temática. Até que ponto a seriedade não se transforma em ingenuidade. Marques Mendes e sobretudo o seu secretário-geral Miguel Macedo não souberam brincar com o brinquedo mais requisitado dentro do partido... o aparelho. É verdade que com os pagamentos em massa de quotas se compram votos? É. Sou militante do PSD há quase 10 anos, nunca paguei um tostão de quotas e elas estavam em dia até este processo eleitoral. Sempre que se faz a mais insignificante eleição numa secção do PSD era dado adquirido que todas as quotas apareciam pagas como que por magia. Hilariantemente, em última análise, esta trafulhice até beneficia a democracia interna, uma vez que todos poderão votar. Mas Marques Mendes e Miguel Macedo acharam que não. Acharam que todos os militantes estavam preocupados em mantê-los a eles e à sua postura de seriedade anti-Isaltinica, anti-Valentinica e anti-Carmonica na liderança. Enganaram-se.

O que nos traz finalmente a Menezes. Pouco direi sobre o que auguro ao seu certamente breve consulado na liderança do PSD. O “neobaronato” (sim porque os verdadeiros barões do PSD já estão todos mortos e reformados) já se agita e faz contas para 2010, uma ano depois da perda de maioria absoluta de Sócrates. Menezes sabe como se ganham eleições no PSD. Qualquer pessoa que tenha liderado a distrital do Porto sabe ganhar qualquer eleição, mesmo que esta seja contra Fidel Castro em Havana. Sabe que é preciso ter 3 telemóveis com 500 números cada um. Sabe que é preciso ir buscar a pessoas a casa. Sabe que é preciso mandar sair os amigos deixar sair o pessoal mais cedo do trabalho. Sabe que é preciso ter a impugnação do acto eleitoral ou a conferência de imprensa preparada em caso de derrota. Sabe, enfim, que é preciso ter a quotas cirurgicamente pagas “aos seus”. Pena que Marques Mendes só tenha reparado nesta última. Não foi suficiente...

3 comments:

Eddie Felson said...

Acredito, sinceramente, que a maioria absoluta do PS em 2009 é missão impossível.

Daqui a dois anos o governo vai estar mais desgastado e os sinais de recuperação económica mal se vêem...

Mas o que penso é o seguinte:

O PSD precisava de um líder a sério, já para as eleições de 2009 para aproveitar a eventual fragilidade de Sócrates imediatamente após perder a maioria absoluta (foi um pouco o que aconteceu com Guterres).

Ora, se continuarem a perder tempo com líderes a prazo...

D.P.V said...

Ao contrário de ti eu acredito na maioria absoluta do PS em 2009(infelizmente), esta mudança de liderança no PSD vai ajudar os objectivos de Sócrates. Acho dificil Menezes conquistar a credibilidade necessária para se afirmar como uma alternativa de peso daqui a dois anos.Como escreve o remexido, ele que sabe bem o que se passa dentro do partido, o próprio PSD está muito de pé atrás com esta liderança, só espero que e que estando o "mal" feito o partido se una em torno do lider e façam, de vez, uma oposição capaz ao governo, evitanndo assim a tal 2 maioria de sócrates.
E que o regabofe de cargos e tachos a distribuir nesta nova liderança seja o menos atribulada possivel, era um bom começo para Menezes um congresso pacifico, mas isso não se coaduna com o seu estilo de fazer politica.O eu quero posso e mando irá ser muito prejudicial a todos os niveis, dentro do partido.

Tiago Pestana de Vasconcelos said...

Pois é, isto nos laranjinhas está mal. Quando se pensava que as eleições no CDS tinham sido tristes, eis que aparecem umas directas com mais casos, mais polémicas, enfim... piores.

O resultado das directas é Luís Filipe Menezes... as críticas, essas aparecem de todos os lados e por todos os lados se discutem os culpados. Parece que não há mérito na vitória, parece que ninguém fez nada por ganhar, parece que o poder caiu de podre.

Não seria de estranhar... há anos que, em Portugal, o poder cai de podre, basta pensar nas vitórias de Guterres, Durão e de Sócrates, nenhum deles ganhou, todos eles apanharam o poder que os outros atiraram pela janela.

No caso do PSD julgo que houve uma "culpa" conjunta, uma responsabilidade solidária... Por um lado Menezes fez tudo para ganhar, trabalhou, deu a volta ao país, falou aos militantes, mas mais que tudo fez-se notar (muito importante numas directas em que os chamados Barões nem se dão ao trabalho de ir votar).

Por outro lado Mendes não podia fazer nada, poder-se-ia esforçar (o que até fez), mas é, e sempre foi cinzento de mais... valia pelos apoios tímidos que iam aparecendo, mas mesmos esses surgiam mais num tom paternalista do que de elogio à pessoa (veja-se os conselhos semanais que o Prof. Marcelo fazia, como que dando lições privadas a Mendes).

Enfim, em resumo, não sei quem seja o responsável, se existe algum, ou se a responsabilidade está de tal maneira diluída que vai ficar pendurada à espera que alguém a assuma...

A única coisa que sabemos é que agora está lá o Menezes e que ele vai ser o candidato às eleições de 2009... Neste momento é tudo o que interessa....