Monday, July 16, 2007

Lisboa 2007...



Realizaram-se ontem mais uma eleições em Lisboa, desta feita eleições intercalares, marcadas por uma campanha pobre, no meio de um Verão que tarde em aparecer. Ironia das ironias hoje Lisboa acordou debaixo de uma chuva miudinha, uma chuva chata que parece castigar toda a gente, desde candidatos (in)dependentes, a partidos partidos ao meio, a abstémios e efectivos participantes (que foram poucos)...

Quanto à estória destas eleições pouco há para contar, a campanha foi uma nódoa, ninguém parecia ter ideias, e se as tinham ninguém as explicou, tão preocupados que estavam a dizer mal do próximo. A culminar a tristeza da campanha, fica ainda para a história a tristeza da noite eleitoral, na qual os atropelos de declarações mais pareciam uma guerra de putos mimados a tentar chamar a atenção aos pais, e na qual deu para perceber a falta de respeito e de lealdade que, inexplicavelmente, tomou conta das pessoas que deviam ser o exemplo para a vida em sociedade. De realçar apenas que os chamados independentes também entraram no bailinho do corta-palavra.

Quanto aos resultados:
VITÓRIAS: A meu ver houve um grande vencedor, Carmona Rodrigues. Mesmo no meio dos ataques que sofreu durante o fim do seu curto mandato, ainda conseguiu reter um capital de confiança dos lisboetas que, a meu ver, não se justifica. Carmona nunca me suscitou grande simpatia, era tido como independente mas ao longo destes dois anos revelou que estava, por demais, metido no meio das tricas partidárias e nas confusões da câmara. Seja como for, nesta vitória deu um bofetada de luva branca em muita gente que lhe espetou uma faca grande demais nas costas. A dúvida será daqui a dois anos, Carmona não tem partido, é one man show, se se fartar de ser vereador (que é ligeiramente menos apelativo que ser presidente), vai-se embora e deixa apeados os seus companheiros de estrada. O outro vencedor foi António Costa, só o considero como vencedor porque ganhou as eleições. Parece uma lógico pouco normal mas é a verdadeira, numa altura em que todas as oposições locais (e não nacionais) estão de rastos, a sua pequena vitória, com menos de 30%, sabe a muito pouco. Resta saber o que vai fazer com os seus 6 vereadores, sendo que precisa sempre de mais 3 para agir e das maiorias de um Assembleia Municipal laranja demais para ele, esperemos então. No final vem Helena Roseta, a sua vitória talvez seja a mais saborosa e a mais comemorada. Ao contrário de Carmona, Roseta é uma política profissional, não me custa acreditar que ficará na CML como vereadora com gosto, com intenção de trabalhar nessas funções. Acho até que, se as coisas lhe correrem bem, mais cedo ou mais tarde pode ser uma alternativa na CML, quanto mais não seja porque António Costa é temporário, tem voos muito mais elevados, e o PS vai precisar de candidato/a quanto ele se cansar de brincar às autarquias.

DERROTAS: Começo por Fernando Negrão, a dimensão da sua derrota é precisamente a mesma que a vitória de Costa, pequena. Não foi uma derrota avassaladora, Marques Mendes perdeu, sem dúvida, mas Negrão acabou por tirar um resultado que até será saboroso. Deu a cara pelo partido, fez o frete ao partido (não simplesmente a Marques Mendes) e pode ter ganho capital de manobra para o indefinido futuro do PSD, o que aliás fez questão de lembrar a todos os putativos candidatos ao concluir a sua declaração com o anúncio da sua filiação. No fundo só é um derrotado porque o PSD perdeu as eleições, ao nível pessoal diria até que ganhou. A outra derrota da noite foi de José Sá Fernandes. Neste caso, também mais ao nível partidário do que ao nível pessoal, JSFernandes baixou a votação mas foi eleito vereador, diria que para ele a votação é ligeiramente indiferente, sendo que o cargo importa-lhe mais do que a expressão da sua votação. Para o BE as coisas são diferentes, a sua votação baixou em Lisboa, que é o grande bastião da sua força eleitoral. O BE é um partido que se tem mantido através do contínuo crescimento da sua força nas urnas. Nas última eleições esse crescimento tem amainado, e começa-se a verificar um certo nervosismo nas hostes bloquistas. Aliás, ontem Louçã não conseguia disfarçar um certo nervosismo e a única coisa que conseguiu balbuciar foi um estúpido regozijar com a derrota da direita. Ele não sabe, ou não quer perceber, que a direita, ciclicamente, volta sempre, mas a esquerda é que começa a ser um espaço bastante limitado para tanta gente, e quando voltar o ciclo da direita o BE vai ter dificuldade me respirar... A meu ver o BE, tal como apareceu, vai acabar por desaparecer, assim como uma moda que dura mas que não passa disso mesmo, uma simples moda.
Ruben de Carvalho não ganhou nem perdeu, antes pelo contrário, mantêm sempre, mais coisa menos coisa, a sua força. Fazem uma piquena festa na noite eleitoral, bebem um (apenas um porque isto é coisa de capitalista) copito de champanhe, e voltam para a cama que amanhã é dia de trabalho, assim vê com é o PC, continua e mantém-se, este sim, para não acabar...

P.S. como acho lógico, o relato da noite eleitoral não deve conter qualquer menção, ainda que (des)honrosa, ao CDS e a Telmo Correia. O seu nome e a sua referência não entraram sequer na equação eleitoral de ontem... O CDS teve menos do dobro dos votos de Garcia Pereira e do MRPP, a sua análise será feita, como é lógico, mas noutro post dedicado, com a atenção que merece....

8 comments:

Nuno Raimundo said...

Boas...
Também concordo que os vencedores foram esses mesmo. A.Costa porque ganhou a presidência e C.Rodrigues por ter se "vingado" do partido que representou e que no fim o empurrou para o "abismo" e que agora retorna de "peito aberto" para calar as hostes do PSD.
A derrota do CDS tambem não é para menos, fruto de um empenho pessoal de P.Portas; este que já se prepara para zarpar de novo. Um erro de casting digamos...
O PC, como sabemos é a "força que se vê" e vimos, que mantêm o habitual número de apoiantes e não saiem disso mesmo. O BE já começa a demonstrar esses sinais de impaciência, pois quando o Zé se esgotar , não têm lá ninguém...
Os restantes, são isso mesmo o resto dos votos e a sua dispersão...

Mais uma vez, Lisboa perdeu...


abr...prof...

D.P.V said...
This comment has been removed by the author.
Tiago Pestana de Vasconcelos said...

não sei quem deixou o último comentário, mas não fui eu que o retirei... o lápis azul ainda não chegou a este blog..

Eddie Felson said...

Para mim, o maior vencedor das eleições não foi nenhum dos candidatos.

Foi José Sócrates.

Passou no teste à sua liderança (ao contrário de Portas, por exemplo) e ainda viu um potêncial concorrente interno (António Costa) perder influência por força da parca vitória.

Tiago Pestana de Vasconcelos said...

Talvez tenhas razão, mas como as coisas estão, Sócrates ainda pode vir a ter que engolir os rasgadíssimos elogios que fez ao António Costa...

Seja como for, a vitória do Costa foi amarga para quem foi pela primeira vez testado em eleições...

D.P.V said...

Aquele comentário era meu, foi um engano.

Igor Caldeira said...

A secção dos perdedores está algo manca:

Qualquer comentário de resultados que omita o maior perdedor da noite é (para dizer o mínimo) fraco. Se Telmo Correia tivesse tido 10% a omissão permaneceria?

Quanto ao BE, a tese da bicicleta (quando parar de andar, cai) é um tanto ou quanto descabida, até porque não há nenhuma prova empírica. O que se viu, por exemplo, nas Presidenciais e agora em Lisboa, é que apesar de surgirem candidaturas que lhe tiram votos (Alegre, que retirou metade dos votos das legislativas e Roseta) o BE consegue ainda assim (isto é especialmente verdade para as Presidenciais) conquistar outros eleitores.

Quanto ao dizer que a Esquerda está a crescer muito mas que isso é moda, eu nem sei como qualificar sem o insultar. Vá ler o que se escrevia há 15 anos atrás sobre o fim da Esquerda e qual a percentagem dos partidos à esquerda do PS e compare com o actual cenário.

Cíclica, não é só a Direita; há sempre ciclos. Descanse, o fim da História não está ao virar da Esquina nem Salazar vai ressuscitar amanhã.

Por fim, dizer que a CDU não perdeu nem ganhou, quando com dois vereadores perdeu 2%, e dizer que o BE perdeu, tendo um eleitor e perdendo 1% é... bom, um comentário próprio da CDU. Autismo mais autista, não há.

Igor Caldeira said...

Já agora, sobre Negrão: posso estar redondamente enganado - isso vai depender do próprio e do PSD - mas ele foi severamente derrotado.

Em Setúbal estava já muita gente à espera de o ver como o primeiro presidente de Câmara de Direita de um dos distritos mais à Esquerda do país. Eu, por exemplo, votaria nele. Indo para Lisboa, com que cara poderá de lá sair para se candidatar daqui a dois anos em Setúbal?