Sunday, July 22, 2007

Reforma Agrária, 30 Anos depois



Passaram hoje 30 anos da entrada em vigor da famosa lei Barreto.Famosa há 30 anos atrás, hoje em dia se entrarmos numa direcção regional de agricultura, 3/4 dos funcionários que lá estão não fazem ideia do que seja tal coisa, não por culpa deles, o assunto reforma agrária passou ao imaginário do povo português há muitos anos.
Não me considero um especialista na matéria,nasci um ano depois da entrada em vigor da referida lei, mas em minha casa, como em tantas casas por esse Alentejo fora, toda a vida se falou da reforma agrária e todos os abusos que dela resultaram.
O que faz falta, na minha opinião, é uma clarificação exaustiva do que realmente se passou no Alentejo nos anos do pós revolução.Nunca se falou na praça publica de tudo o que se passou nesse tempo, talvez por haver demasiados intervenientes que ainda são vivos e que não querem ver remexer em certos assuntos, que seriam prejudiciais a imagem que hoje a opinião publica tem deles.
Dizer que houve pessoas assassinadas, que os culpados escaparam impunes aos olhos de todos, que houve propriedades compradas por tuta e meia a agricultores aterrorizados perante a possibilidade de perderem tudo pelo que tinham trabalhado a vida toda, que as cooperativas que se formaram na altura serviram para enriquecer meia dúzia de ladrões enquanto o Alentejo ficava cada vez mais pobre e abandonado, é dizer verdades, inconvenientes, mas verdades.
A reforma agrária atrasou o nosso pais em todos os aspectos, a par das nacionalizações, contribui-o para o atraso verificado no pós 25 Abril, mas ao contrário destas, a reforma agrária serviu para enriquecer muita gente que nunca foi chamada a justiça por esses actos.
Não digo que seja altura de julgar os culpados e os corruptos, sei bem que era tarefa impossível, não sendo jurista nem nada que se pareça tenho em crer que a famosa prescrição de que oiço falar relativamente a casos bem mais famosos que estes se aplica aqui em toda a extensão da lei.
Mas sarar estas feridas, chamar os bois pelos nomes, como se diz na nossa zona, seria talvez a única justiça possível para aqueles que sofreram com tudo o que de mau se passou neste nosso pais num passado não tão longínquo como isso.
Em jeito de fecho deixo aqui a opinião sobre a reforma agrária ouvida da boca de um dos meus empregados rurais, pessoa sem posses mas honrada em toda a extensão da palavra.
"Isso da reforma agrária para mim não foi nada, nasci pobre toda a vida trabalhei para os outros , sempre trabalhei bem e ganhei aquilo que devia, veio a reforma agrária, fiquei sem emprego fui trabalhar para a cooperativa, ganhava pior mas diziam que era tudo de todos.Uma ova acabou a cooperativa fiquei sem emprego sem dinheiro fui trabalhar para o mesmo sitio onde trabalhava antes.Os chefes da cooperativa e que se encheram, hoje em dia passam por mim nem me falam, andei 10 anos a trabalhar para enriquecer uns c..... que nem tinham direito aquilo, só perdi dinheiro e ganhei arrelias com essa conversa, nunca ocupei uma herdade nem roubei nada a ninguem, só fiquei mais pobre...."

A lei original de instituição da reforma agrária:
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=novapolitica20
Assassinios
http://www.correiomanha.pt/noticiaImprimir.asp?idCanal=0&id=234193
Lei Barreto( não consegui o original,ficam os pontos mais importantes)
http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/news.asp?section_id=2&id_news=83996

9 comments:

Maria Papoila!!! said...

Concordo em pleno contigo!!:)

Eddie Felson said...

Sem deixar de concordar com grande parte do que dizes, a verdade é que onde quer que haja alguém com boas idéias ou boas teorias, haverão outros tantos oportunistas, outros tantos aproveitadores.

Mas tudo visto e somado, quantas revoluções tiveram períodos pós-revolucionários "tão pacíficos" como o nosso?

Os erros são consequência necessária da mudança que, idealmente, se quer pacífica, racional e ponderada. Utopias, portanto...

E já agora, não consta que os assassínios de Delgado ou Catarina tenham sido trazidos perante a justiça.

D.P.V said...

Concordo contigo quando dizes que não há revoluções perfeitas nem ideais que não sejam corrompidos.
Mas, por mais pacifico que tenha sido o nosso periodo pós-revolucionário houve injustiças, que deviam ter sido trazidas a justiça em altura própria.
outras houve que tendo sido postas julgamento foram absolvidas naquilo que foi uma das paginas mais negras da nossa justiça pós revolução.
Houve até quem tenha absolvido assassinos e seja considerado um exemplo de democracia neste pais.
mas isso e assunto para outro post, o assunto tem "pernas para escrever" e voltarei a ele noutras ocasiões.
Quanto a catarina e ao Humberto Delgado concordo contigo, deviam ter sidos chamados a justiça, eram outros tempos e outra forma de governo, a revolução fez-se exactamente para acabar com esses abusos, não para lhes mudar a cor politica.
Abraço

António de Almeida said...

-Ainda hoje simpatizo com A.Barreto e Maldonado Gonelha, os dois mentores das leis que mais irritaram o PCP após o 25 de Novembro! Não estou politicamente perto deles, mas só por essas 2 leis, sempre os respeitei. Portugal deve-lhes algo!...

Anonymous said...

E também o Carlos Portas tem uma palavra nessa matéria....Senão o dourado do Alentejo seria bem vermelho!

Anonymous said...

"- Dez anos após o crime, Otelo Saraiva de Carvalho, fundador e dirigente das Forças Populares 25 de Abril, referiu-se à morte do bebé de São Manços como um “acidente”."

E este grande CABRÃO ainda foi condecorado e considerado um herói do 25 de Abril, deviam era ter lhe enfiado uma bomba no CÚ e acendido o rastilho, havia de haver MERDA por todo o lado e depois...olha foi sem querer, foi um acidente...

Anonymous said...

Catarina uma vitima do comunismo ou uma vitima dos negócios de saias???

Anonymous said...

O pior é que muitos dos tipos ladrões no 25/04/74, são agora "respeitados" empresários, ministros, e "amigos"...

Anonymous said...

Tens razão os ladrões passaram-se quase todos para o CDS, PSD, PS.