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Sempre foi, para mim, um conceito algo estranho, a roçar o indeterminado. Afinal, o que é uma geração?
Um mero conjunto de pessoas com idades próximas? Um movimento mais ou menos assumido e consciente de representantes políticos e cívicos dessa mesma geração que defendem valores comuns perante a sociedade? Ou, até, um conjunto de pessoas marcadas por determinado acontecimento histórico?
Certamente um pouco de tudo isto.
Grosso modo, os nossos avós (e bisavós) serão a geração Estado-Novo, os nossos pais a geração guerra colonial/25 de Abril, nós a geração União Europeia e os putos... enfim... os putos ficarão a geração Britney Spears... Não? 50 Cent então... Também não? Epá... Então Bataton. E não se fala mais nisso.
Tudo isto a propósito de uma música que me anda no ouvido, escrita e cantada por um cancioneiro Português de quem gosto muito. JP Simões de seu nome (artístico, como convém).
Deixo-vos a definição que faz da sua própria geração. Resta saber como definiremos a nossa daqui a uns anos. Eu cá arrisco dizer que não andará longe da dele.
Ou não vivêssemos todos nós, cada vez mais, em função apenas de, e para, nós próprios.
“A minha geração já se calou, já se perdeu, já amuou,
já se cansou, desapareceu ou então casou, ou então mudou,
ou então morreu: já se acabou.
A minha geração de hedonistas e de ateus, de anti-clubistas,
de anarquistas, deprimidos e de artistas, e de autistas
estatelou-se docemente contra o céu.
A minha geração ironizou o coração, alimentou a confusão,
brincou às mil revoluções amando gestos e protestos e canções,
pelo seu estilo controverso.
A minha geração só se comove com excessos, com hecatombes,
com acessos de bruta cólera, de mortes, de misérias, de mentiras,
de reflexos da sua funda castração.
A minha geração é a herdeira do silêncio, dos grandes paizinhos do céu,
da indecência, do abuso, e um belo dia esqueceu tudo e fez-se à vida
na cegueira do comércio.
A minha geração é toda a minha solidão, é flor de ausência, sonho vão,
aparição, presságio, fogo de artifício, toda vício, toda boca
e pouca coisa na mão.
Vai minha geração, ergue a cabeça e solta os teus filhos no esplendor do lixo e do descuido, deixa-te ir enquanto o sabor acre da desistência
vai corroendo a doçura da sua infância.
Vai minha geração, reage, diz que não é nada assim, que é um lamentável engano,
erro tipográfico, estatística imprecisa, puro preconceito,
que o teu único defeito é ter demasiadas qualidades e tropeçar nelas.
Vai minha geração, explica bem alto a toda a gente que és por demais inteligente
para sujar as mãos neste velho processo, triste traste de Deus,
de fingir que o nosso destino é ser um bocadinho melhores do que antes.
Vai minha geração, nasceste cansada, mimada, doente por tudo e por nada,
com medo de ser inventada,
o que é que te falta agora que não te falta nada?
Mas, minha geração, valeu a trapaça, até teve graça,
tanta conversa, tanta utopia tonta, tanto copo,
e a comida estava óptima! O que vamos fazer?”