Thursday, September 13, 2007

A diferença entre os amadores do râguebi e os profissionais do futebol...

Depois do que se passou ontem aqui fica um artigo transcrito na íntegra por ser muito pertinente e realista…

“Pedro e os Lobos

Ver a selecção nacional de râguebi cantar o hino nacional na estreia do Mundial colocou Portugal no divã da autopsicanálise. O país não está habituado a ver-se representado assim, com aquela garra. Que Portugal era aquele, que ali gritava "Heróis do Mar" como se não houvesse amanhã, num coro guerreiro e surpreendente?

Os "Lobos" obrigaram-nos num minuto de música a fazer mil perguntas sobre motivação, patriotismo, orgulho, honra, capacidade de exceder limites. As imagens tornaram-se campeãs de audiência na TV e no
Sapo Vídeos. As derrotas no râguebi e no basquetebol honraram-nos mais que os empates no milionário futebol. Os desportos amadores, o atletismo, estão a dar ao país aquilo que o país não lhe dá a eles: reconhecimento, entrega, demonstração de competência, empenho e profissionalismo.

Não é grave, o deslumbre passa-nos depressa, mas enquanto não atinge o buraco negro das medalhas do Presidente da República, que simultaneamente exalta e extingue a façanha, vale a pena fazer reflexões. Não apenas sobre desporto, sobre humildade e sobre força, mas também sobre o sucesso e sobre as capacidades que temos - e as que estamos dispostos a ter.
Não vale a pena lamentarmos o desequilíbrio mediático a favor do futebol. A desproporcionalidade está nas audiências. Mas vale a pena enquadramos o orgulho numa selecção de basquetebol ontem derrotada no Europeu e de outra selecção que erege como objectivo no próximo jogo, contra a Nova Zelândia, perder por menos de 100 e chegar ao fim de pé: a sua presença nestes campeonatos equivale a ter um clube das Distritais na Champion's League.

É frequente pedir-se à imprensa que contribua para melhorar a auto-estima nacional exibindo boas práticas e casos de sucesso. Os Governos e os grandes empresários adoram. Os leitores nem tanto, como mostram vários fracassos editoriais de produtos lançados com essa pretensão. Mas há excepções que confirmam a regra, como os programas "Sucesso.pt" da SIC Notícias e o "Radar de Negócios" da RTPN. Quem os vê encontra padrões nos casos de sucesso empresarial relatados. Um deles é a desnecessidade do Estado, a cosmopolitismo empresarial, a universalidade das ambições, a exclusão do círculo vicioso eu-apoio-o-Governo-que-me-apoia-porque-eu-o-apoio. Sucesso é isso. É vencer nos mercados abertos e sem ajuda do Estado nem balões de oxigénio como o que o Governo acaba de dar à Maconde, em benefício financeiro da empresa e mediático do ministro. O Jornal de Negócios entende que puxar pelo país é não ser complacente, mas exigente com as suas empresas e os seus líderes. E, sim, o "Portugal de sucesso" existe. Ei-lo inspirador na selecção de râguebi, bem longe dos discursos enfunados. Não é à toa que Tomaz Morais, "o Mourinho do râguebi", se tornou um guru instantâneo de liderança, sem espaço na agenda para mais palestras a quadros de empresas portuguesas.

O fracasso não é uma fatalidade. O sucesso não é uma sorte. Os "Lobos" do râguebi estão a revigorar a nossa auto-estima. E a dar uma lição ao País. Estaremos a aprender alguma coisa?

Pedro Santos Guerreiro
psg@mediafin.pt

2 comments:

Anonymous said...

Palavras para quê é o pais que merecemos.

Nós é que pomos lá esta gente...

Anonymous said...

Parabéns pelo post, está realmente muito bom. Só acho que se esqueceu de referir mais alguns "GRANDES PORTUGUESES" que também dão mais do que o que lhes dão a eles, os Paralímpicos!